A riqueza das festas juninas

Manifestação cultural do Brasil é um dos eventos mais importantes do calendário do país e carrega símbolos e referências nacionais.


A Festa Junina é uma das festas mais tradicionais e celebradas no Brasil. Mas sabia que a origem dessa festividade é europeia? Segundo historiadores, o costume de realizar um grande festejo em junho, com fartura de alimentos e símbolos característicos, foi trazido pelos portugueses durante a colonização, no século XVI. Com o passar do tempo, porém, diferentes costumes locais foram sendo incorporados, remodelando a tradição e resultando nos arraiais conhecidos atualmente.

Origem da festa junina

Desde tempos remotos, as primeiras civilizações da Europa tinham o hábito de realizar celebrações relacionadas a determinados períodos do ano, como a chegada da primavera e do verão — épocas de fertilidade e abundância. Esses rituais tinham como propósito saudar a natureza pelos frutos trazidos e espantar pragas e maus espíritos através de simbolismos.

A Festa Junina começou como uma dessas cerimônias, realizada no solstício de verão do Hemisfério Norte (que corresponde ao nosso inverno). As festividades eram longas, durando até um mês, e marcadas por uma verdadeira efervescência social, já que, após o período de frio rigoroso, as comunidades sentiam a necessidade de aproveitar o bom clima para sair de casa, se relacionar e compartilhar momentos de alegria.

Muito ligada à fartura e alimentação, a festa trazia abundância de comida e incluía homenagens a deuses relacionados à vegetação e animais para garantir bênçãos nas próximas temporadas. Tratava-se de um momento de partilha entre as famílias e até mesmo de formação de alianças, quando ocorriam muitos casamentos e batizados.

A incorporação dos símbolos cristãos ocorreu à medida que o catolicismo foi se tornando a religião predominante na Europa, mesclando as práticas já tradicionais da região com as celebrações da Igreja Católica.

Assim, a Festa Junina foi sendo aos poucos associada com santos homenageados ao longo do mês de junho: Santo Antônio, celebrado em 13 de junho e conhecido por ser o santo casamenteiro; São João, comemorado em 24 de junho; e São Pedro, homenageado no dia 29 de junho.

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Crédito: BrazilPhotos / iStock 1300308997

O arraial brasileiro e seus símbolos

Originalmente, as Festas Juninas já contavam com alguns dos símbolos que vemos até hoje em nossos arraiais. Os mastros juninos, por exemplo, fazem uma referência à força das árvores, enquanto as fogueiras espantam os maus espíritos (além de serem usadas para assar os alimentos). Já as clássicas bandeirinhas são associadas às homenagens aos santos, já que suas imagens costumavam ser penduradas ao lado dos enfeites coloridos.

Mas até chegar aos moldes atuais, a festa passou por várias influências. Assim que chegou ao Brasil, a celebração tinha um forte tom religioso e era marcada por procissões e missas. Com o tempo, embora a relação com os santos tenha permanecido, o evento foi cada vez mais ganhando a conotação de festa popular e folclore — sendo reconhecida como manifestação da cultura nacional em 2023.

A popularização da festa no interior do país talvez tenha sido o maior fator desse abrasileiramento. Foi a partir daí que a Festa Junina passou a ser associada à figura do caipira, homenageando suas vestes através dos chapéus de palha e tecidos xadrez, e seu trabalho no campo através das comidas à base de milho e amendoim, como paçoca, pamonha, pipoca, bolo de fubá, canjica, curau, pé de moleque e outras.

Graças à mistura de influências vindas dos sertanejos, indígenas e africanos, ritmos brasileiros foram sendo incorporados ao festejo, como o baião, o forró, o xaxado e o galope, assim como instrumentos como o tambor e a zabumba — além, é claro, das danças típicas.

E falando em dança, a tradicionalíssima quadrilha junina também tem uma origem curiosa: suas raízes estão ligadas às danças de salão realizadas pelas famílias nobres europeias.

Essa tradição também foi trazida ao Brasil pela corte portuguesa, mas conforme o poder imperial foi se enfraquecendo, a modalidade foi sendo incorporada na cultura nacional de forma caricata e folclórica, resultando na brincadeira feita hoje nas Festas Juninas. A manifestação também ganhou reconhecimento legal recentemente, tornando-se patrimônio cultural brasileiro em 2024.

É claro que, tratando-se de Brasil, seria impossível falar em uma única Festa Junina. Graças à nossa rica e variada cultura, as expressões dessa tradição são diversas e trazem fortes elementos regionais nos eventos realizados em cada estado.

O Nordeste é famoso pela festa de São João, que tem suas próprias particularidades em cada localidade. Em Mossoró, por exemplo, localizada no Rio Grande do Norte, os festejos são marcados pela encenação do espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró”, que comemora a expulsão de Lampião e seu bando de cangaceiros da cidade.

Já a região Norte (além de parte do Nordeste) é conhecida por celebrar o Boi Bumbá nessa época. No Amazonas, a festa de Parintins é a principal tradição de junho, quando ocorre a competição entre o Boi Garantido e o Boi Caprichoso.

A figura do boi também aparece no Sul, com o Boi de Mamão, uma manifestação teatral e musical típica de Santa Catarina. Por lá também ocorrem tradicionais danças alemãs no período junino, enquanto no Rio Grande do Sul é comum a utilização de trajes típicos gaúchos.

Ainda há as Cavalhadas no Centro-Oeste, que encenam as batalhas entre cristãos e mouros, e as festas do Divino Espírito Santo no Sudeste.

Independente da região, porém, o que sempre se pode esperar das Festas Juninas brasileiras é muita alegria, cultura e quitutes deliciosos!

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