Arquitetura do Clube Paineiras

A Arquitetura do Clube Paineiras do Morumbi -

Arquitetura - A Arte de Projetar com Inteligência

9 de agosto de 1960, essa é a data exata do dia em que seis senhores, entre eles nadadores e jogadores de pólo aquático, se reuniram na rua Barão de Itapetininga para fundar o Clube Social, Recreativo e Esportivo Paineiras, mas os detalhes dessa história serão contados em breve, neste artigo, vamos falar sobre a arquitetura do Clube Paineiras, uma obra de arte que durou quase 4 décadas para ser inteiramente concluída em sua máxima magnitude.

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Arquitetura do Clube Paineiras

Para começar a falar da obra e arquitetura do Clube Paineiras e de seus idealizadores, é importante ressaltar que todo o processo de levantamento da obra visou a construção de um local que pudesse oferecer um melhor convívio social e familiar, tornando os dias de seus associados ainda mais divertidos e culturais.
O Clube Paineiras do Morumby, hoje, oferece diversas atividades socioculturais, contando com instalações de ponta e um moderno e completo complexo esportivo, além das instalações para eventos e atividades socioculturais do clube.
O complexo esportivo do Clube Paineiras, por exemplo, é composto por 7 piscinas aquecidas, sendo uma delas olímpica, uma piscina kids e 5 piscinas sociais. São 2 quadras de peteca, 4 quadras de areia, 15 quadras de tênis, 3 ginásios, pista de skate, pista de atletismo, 1 campo de futebol com medidas oficiais, 1 campo de society, fitness completo, sala de levantamento de peso olímpico, cancha de bocha, além de diversas salas para atividades específicas como pilates, boxe, yoga e outras.
Na área educativa e cultural, a estrutura também comporta sala de leitura, cineteatro, biblioteca e um complexo com 13 salas para abrigar os milhares de alunos dos cursos do departamento sociocultural.

Os idealizadores da Arquitetura do Clube Paineiras

O plano diretor inicial proposto ao Clube Paineiras do Morumby foi elaborado pelo arquiteto Carlos Barjas Millan e seus colaboradores. Tratava-se de um desafio muito grande, pois se discutia a construção em um terreno com área generosa, entretanto com uma inclinação muito acentuada com uma diferença de cerca de 70 metros da cota da rua de acesso à cota inferior.
Para se ter uma ideia, a diferença de altura correspondia a um prédio com aproximadamente 18 andares entre uma cota e outra.
A implantação da obra em terreno em declive resultou em um alto custo de execução, exigindo a adoção de uma estratégia ousada e criativa em seu desenvolvimento. Como primeira solução, Millan trabalhou na construção da plataforma das piscinas e do pavilhão de fisioterapia, onde funcionou provisoriamente a sede social e restaurante por cerca de uma década.
Aos poucos, com a venda de títulos e ajuda de seus associados, a obra foi sendo custeada e aos poucos ganhando seus traços e exuberância únicas.

Quem foi Carlos Barjas Millan?

O arquiteto Carlos Barjas Millan, conhecido como Carlos Millan, foi um dos mais famosos arquitetos paulistanos e um dos principais nomes da arquitetura moderna paulista.
Formado em 1951 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, montou, em conjunto com alguns colegas, um dos empreendimentos pioneiros na produção de móveis modernos que fizeram parte das composições de muitos imóveis na década de 50.
Segundo observações de notáveis colegas e apreciadores das obras de Millan, seus projetos revelam cuidadosamente a análise das funções de cada construção, tendo enorme respeito pela precisão construtiva, pelo detalhe e pelo adequado emprego dos materiais.
A arquitetura das edificações do plano diretor de Millan, construídas em concreto armado aparente, segue a risca a linha do que que chamam de “Arquitetura Moderna Paulistana”, visíveis nos diversos elementos da obra, particularmente no bloco de fisioterapia, onde o concreto é aparentemente empregado com largueza, enfatizando a simplicidade e beleza do material bruto.
A obra, por excelência, considerou muito as características da arquitetura “Brutalista”, onde o gosto pelo emprego dos materiais no estado bruto, principalmente o concreto, envolvem a estética crua da obra, destacando pilares e revelando um visual de obra “inacabada”, mas de uma construção de espaços de forma organizada e ordenada para acomodar atividades humanas.
Millan também era conhecido pela sua preocupação constante no barateamento da construção através da simplificação dos detalhes e da utilização de materiais industrializados. Assim também acontecia com o desenho das luminárias, levando seus projetos pensados até as últimas consequências, com enorme quantidade de detalhes.
Em 1957 foi convidado para dar aulas na FAU Mackenzie e FAU USP. Tal como seu estilo, de presença discreta, porém intensa, teve uma efetiva participação nos rumos que a arquitetura paulista seguiu, sendo referência constante na singularidade de suas obras.
Além da participação de Millan na obra do Clube Paineiras, deixou como legado sua cadeira mais famosa chamada de MF5, um dos modelos mais conhecidos no Brasil.
Carlos Millan faleceu em 1964, decorrente de um acidente de carro, quando o clube ainda não havia acelerado sua construção. Após sua morte, a convite do Clube, o arquiteto Paulo de Mello Bastos foi chamado para dar continuidade ao projeto.
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Do período de 1960 a 1963, Bastos era colaborador no escritório de Millan, participando de muitos detalhes de projetos executivos. Segundo ele, a solução do projeto de Millan era tão rica e bem colocada, que seu trabalho foi simplesmente seguir as diretrizes projetadas.
Em suas palavras, a obra do Clube Paineiras foi “uma continuidade da obra de Millan, com o máximo respeito a ela.”

Quem foi Paulo de Mello Bastos?

Paulo de Mello Bastos se formou em 1959 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, FAU-USP, posteriormente se tornando professor de arquitetura do Mackenzie e da PUC de Santos.
Autor de inúmeros projetos que são referência em São Paulo, como o próprio Clube Paineiras do Morumby e o Comando Militar do Sudeste, no Ibirapuera, Bastos atuou com destaque em muitos projetos institucionais, agências bancárias e residências.
Foi um arquiteto reconhecido por suas lutas por cidades mais sustentáveis, se tornando vice-presidente do Movimento Defenda São Paulo e representante das entidades ambientalistas no Conselho Estadual de Meio Ambiente paulista.
Bastos também era membro do International Council on Monuments and Sites (Icomos), órgão consultor da Unesco, do qual foi secretário geral no Brasil, sendo homenageado em edições da Bienal Internacional de Arquitetura em 2009 e em livros sobre arquitetura modernista.
Faleceu em 2012, na cidade de São Paulo, aos 75 anos, em decorrência de um AVC.
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O projeto do Clube Paineiras do Morumby

Com as diretrizes de Millan e a execução de Bastos, o projeto arquitetônico do Clube Paineiras do Morumby buscou adaptar com naturalidade os problemas do desnível de terreno, trazendo soluções inovadoras e modernas para seu tempo.
Para Yves Bruand, um estudioso e entusiasta da arquitetura contemporânea no Brasil, a obra do Clube Paineiras adotou a austeridade e o respeito no uso de materiais e instalações à vista (acabamento em si), e a preocupação por um funcionalismo não necessariamente mecanicista.
Trata-se de um projeto que buscou averiguar a presença dos princípios da arquitetura moderna paulista, de vivenciar a forma de encarar com inteligência a arte de projetar em um terreno difícil, da criatividade para tornar a pior insolação e ventos da cidade em um espaço acolhedor, atendendo a um programa de necessidades extenso numa grande área, porém com inúmeras restrições topográficas.
O valor cultural do patrimônio da arquitetura do Clube Paineiras está explícito em um simples percurso por suas plataformas. Assim, desde o início, em 1961, o projeto foi pensado com entusiasmo e criatividade, seja em seus edifícios e em cada detalhe, assim como sua continuidade após a morte de Millan, respeitando o plano diretor, seguindo o mesmo rigor, sendo um trabalho único e uma referência da arquitetura moderna do Brasil.