Você sabia que o desmatamento das florestas pode trazer graves consequências para a saúde como problemas respiratórios, novas doenças e pode até novas pandemias? Assim como para o meio ambiente, os impactos são preocupantes para o bem-estar e a saúde social.
A destruição das florestas causa o desequilíbrio do ecossistema, que retém vírus e animais que são próprios para aquele habitat. Com as espécies fora do lugar, a chance de surgirem novas doenças e pandemias crescem muito. Muitas das epidemias e pandemias que se espalharam nas últimas décadas foram causadas por vírus originados de animais silvestres.
Sempre que habitats são destruídos ou desestabilizados, cresce o risco de que vírus se espalhem dos animais para os humanos. Muitos vírus perigosos para os seres humanos se originaram em morcegos (p.ex. SARS, MERS, Nipah, Ebola e muito provavelmente também o SARS-CoV-2), e alguns vieram de primatas (HIV, por exemplo). A maioria desses animais vive nas florestas.
Mas o problema somos nós, humanos, e não eles: enquanto seus habitats permanecem conservados, as florestas atuam como barreiras naturais à transmissão de vírus aos seres humanos, já que os animais hospedeiros raramente entram em contato com humanos.
Em muitos nichos ecológicos, os vírus e seus animais hospedeiros coexistem em equilíbrio uns com os outros. Quando as florestas são destruídas, esse equilíbrio é quebrado. O desaparecimento do habitat natural dos seres que vivem nas florestas coloca-os sob uma pressão que ameaça suas vidas.
Destruição das Florestas
As florestas são habitats únicos. Elas abrigam cerca de 80% de todas as espécies conhecidas de animais e plantas terrestres. As florestas tropicais, em especial, contêm mais espécies do que qualquer outro habitat terrestre. As florestas também abrigam cerca de 300 milhões de pessoas, muitas vivendo em comunidades indígenas, e outros 1,6 bilhão de pessoas dependem diretamente delas para sua subsistência.
Entretanto, esses valiosos ecossistemas estão desaparecendo. Estima-se que 75% da cobertura terrestre global já tenha sido substancialmente alterada por ações humanas. Quando florestas ou outros ecossistemas naturais são convertidos em plantações ou pastagens, começa a extinção de espécies. A mudança no uso da terra é a principal causa da perda de biodiversidade.
O destino das florestas, portanto, é crucial para o futuro de nosso planeta e de seus habitantes. A única maneira de desacelerar a extinção em massa de espécies é conservar os ecossistemas naturais que ainda existem e restaurar os habitats degradados. No momento, porém, a destruição desses habitats está avançando rapidamente. Secas, inundações e incêndios, que provavelmente aumentarão com as mudanças climáticas e o desmatamento em curso, ameaçam a integridade e a existência das florestas remanescentes em todos os continentes.
A situação é mais dramática nas florestas tropicais, onde surgem muitas das zoonoses, já que as perdas são maiores – e geralmente irreversíveis. O fator que mais contribui para a destruição das florestas é a agropecuária industrial, em grande parte impulsionada pela produção visando a exportação para regiões como Europa, China e Estados Unidos.
Além disso, as estradas construídas por madeireiros para acessar áreas de floresta até então intactas geralmente abrem o caminho para a destruição. Elas permitem que árvores de alto valor comercial sejam cortadas e vendidas em todo o mundo e criam acesso a partes praticamente intocadas de ecossistemas, ameaçando a biodiversidade.
O que é preciso entender?
Precisamos entender que proteger a natureza é proteger a nossa saúde. Para reduzir os riscos de transmissão e disseminação de doenças zoonóticas, devemos parar de destruir habitats naturais. As florestas e outros ecossistemas naturais são essenciais não apenas para proteger a biodiversidade, mas também para mitigar as mudanças climáticas e manter o ciclo de água, especialmente o ciclo de água doce e de chuvas que irrigam regiões distantes.
Esses ecossistemas atuam como barreiras naturais contra a propagação de novas zoonoses e devem ser protegidos e restaurados.
Dra. Márcia Cavalheiro Bento
CRM 79.638
Fonte:
Https://doi.org/10.1016/j.envsci.2020.05.017
Everard, M., Johnston, P., Samtillo, D.,& Staddon, C. (2020). The role of ecosystems in mitigating and management of Covid-19 and other zoononoses. Environment Science & Policy, 111,7-17